sábado, 12 de dezembro de 2009

Cinema e História/ História das Mentalidades

Cinema e História
Pedro Mota Pereira e Luiza Fernandes Brandão

Desde sua criação os filmes vem exercendo um papel de agentes da história. Um dos maiores exemplos disso é que durante a segunda guerra e seguindo pela guerra fria a produção cinematográfica foi apropriada por governos e usada como veículo político e ideológico. Na alemanha nazista Goebbels pos em prática um mecanismo de controle sobre o cinema e a distribuição de filmes, na URSS o filme Encouraçado Potemkin – considerado um marco da montagem cinematográfica – foi feito sob encomenda do estado para celebrar os vinte anos da Revolução Russa, enquanto que nos EUA o cinema foi utilizado para fins propagandistas pró-guerra e para noticiar o progesso aliado contra as forças do eixo.
Apesar disso, como M. Ferro nos mostra, filmes são em muitos casos tratados por historiadores como formas de representação da sociedade – ora revelando aspectos mais ocultos e desagradáveis – e contém em si, a visão de mundo dos cineastas (sendo objetos tão pessoais para estes quando um quadro é para um pintor ou um livro para um escritor). É graças a essa afinidade que cineastas como Eisenstein foram capazes de criar obras primas que viveram além da ideologia do estado, além do controle que tentava ser exercido. Outro exemplo é Godard na França com sua Nouvelle Vague ou então Chaplin nos EUA, que foi perseguido por sua posição esquerdista, mas não o impediu de continuar a nos prestigiar com seu olhar único e cômico. Parte do exito de Chaplin foi a produção de filmes que tem seu impacto em diversas culturas e públicos, marca comum do cinema norte americano, que tem por objetivo agradar o maior número de espectadores.
O outro lado da dualidade abordada por Ferro é, de acordo com ele, mais recente. Os filmes, quer sejam documentários ou ficções, passaram a ser entendidos como documentos e arquivos, que mesmo não sendo retrados fiéis e precisos, serviam ao propósito de passar informações sobre uma sociedade comtemporânea. Dessa forma o autor faz uma crítica ao pouco estudo que é dado a produção do filmes e o que se passa em seus bastidores, para a compreensão mais ampla dos diferentes significados de uma obra cinematográfica, devemos procurar nas entrelinhas de sua produção.
Com essa visão Marc Ferro se posiciona em cima do muro no que diz respeito a dicussão do filme como fonte e o filme como objeto. Para ele os filmes são objetos, mas que que trazem significados que vão além do meio cinematográfico e transitam por questões sociais, políticas e pessoais. Já na análise semiótica, o filme acaba por ser repartido em sinais a serem analisados e compreendidos, de forma mais fria e distante, seguindo certos padrões de busca nos sinais: época em que o filme foi feito, ideologias, público alvo etc. Dentre esses sinais, a narrativa é a mais privilegiada para a decodificação, porque é vista como signo que guia o filme, sendo a imagem um elemento conotador.

Palavras chaves: filmes, narrativa, ideologia, política e cultura.

Bibliografia: FERRO, Marc. “Cinema e história” In: BURGUIÉRE, André (org) Dicionário das ciências históricas, Rio de Janeiro: Imago Ed., 1993.

CARDOSO, Ciro Flammarion; MAUAD, Ana Maria. "História e Imagem: os Exemplos da Fotografia e do Cinema" In: CARDOSO, Ciro Flammarion; VAINFAS, Ronaldo (Org) Domínios da História: Ensaios de Teoria e Metodologia, Rio de Janeiro: Editora Campus, 1997

História das Mentalidades
Pedro Mota Pereira e Luiza Fernandes Brandão

Toda nova teoria de método histórico traz consigo, além de novas questões, uma nova possibilidade de ponto de vista para abordar os problemas que o historiador se defronta. O ramo de teoria da História conhecida como História das Mentalidades começa a despontar no início do século XX (“Os Reis Taumaturgos”, escrito em 1924 por Marc Bloch, é reconhecida como a obra que inaugura essa corrente de pensamento) e revista na pelos historiadores da Nova História, como Jacques Le Goff e Georges Duby, na década de 1980. A grande inovação proposta é justamente considerar o plano dos fenômenos mentais, pois este seria o relato mais fidedigno e abrangente, já que considera uma gama maior possibilidades de análise, como a da cultura.
Mas o que definiria esses “fenômenos mentais”? Os padrões destes fenômenos são definidos a partir de um sistema de valores comuns, e é o sistema de valores que permite ou não a integração dos indivíduos à sociedade. Pois cada sociedade tem um conjunto próprio de ideologias, (ou seja, um sistema lógico de representações mentais, materiais, simbólicas, políticas e sociais) que constroem um quadro geral da chamada mentalidade.
Há alguns pontos importantes que devemos considerar ao tratar do conceito ideologia, já que estamos considerando este um conceito amplo que não se limita ao campo político ou a nenhum outro. São sistemas completos e integracionistas, que implicam em uma visão de mundo consolidada dentro de suas diretrizes. Mas não são tão padronizados quanto pretendem, já trazem consigo uma série de irregularidades e deformidades. No entanto, ainda que não sejam uniformes, são sistemas coerentes, pois se desenvolvem dentro do mesmo conjunto cultural que possui as mesmas tradições e língua. São, em última instância, uma interpretação do vivido e do real.
São estas ideologias o objeto de estudo do historiar que pretende balizar seu estudo segundo a História das Mentalidades. A partir da memória de um período, seja ela objetiva ou mítica, os historiadores estabelecem um paralelo entre o vivido e sua representação para construção da História, já que a relação entre os dois é naturalmente íntima e correlata.
A princípio, a História das Mentalidades pode parecer uma teoria elitista que se preocupa apenas com as grandes idéias e com as ideologias das classes ou grupos sócias dominantes. Porém, na verdade, o que muda não é a importância dada às ideologias “populares” ou contestatórias, e sim a maneira que estas ideologias são estudadas. Quanto a estas, os historiadores estudam a força e maneira que foram repreendidas, já que é justamente por isso é impossível avaliar seu impacto na mentalidade da sociedade estudada.

ARIÈS, Philippe. “L’Histoire des Mentalités”. In: LE GOFF, Jacques ;CHARTIER, Roger; REVEL, Jacques (dir) Les Encyclopedies du Savoir Moderne : La Nouvelle Histoire. (Paris: CEPL, 1978)

DUBY, Georges. “História Social e Ideologias das Sociedades”. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre (org.) História : Novos Problemas. (Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves editora S.A. 1979)

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